Se tem uma tentação que nos persegue em times de plataforma e segurança é a de “ver tudo”. A Caroline Assunção, com mais de 14 anos na área, nos ajuda a separar iluminação de holofote: observabilidade e segurança só geram valor quando orientam ação. Nós provocamos, ela devolve com método, e um monte de histórias de campo, para que a conversa saia do gráfico e entre no backlog.
De um lado, alertas que gritam por atenção; do outro, produto que precisa continuar entregando. Entre esses polos, mora a disciplina de explicitar apetite de risco, escolher métricas que importam e criar rituais que mantenham a segurança no fluxo (e não na fila) do time. Falamos de Kubernetes, modelagem de ameaças, Zero Trust como filosofia e até do papel dos dados na tomada de decisão.
Visibilidade sem ação vira ruído
Aumentar a telemetria é importante, mas não mágico. Quando medimos sem propósito, criamos alert fatigue e um falso senso de segurança. O antídoto, como discutimos no episódio, passa por:
Definir perguntas operacionais antes das ferramentas (ex.: “qual é o nosso MTTR para correções críticas?”);
Estabelecer thresholds e rotas de escalonamento que façam sentido para o contexto;
Revisar periodicamente o que está gerando ruído e o que está direcionando correções.
“Visibilidade boa é a que move o ponteiro do produto.”
Apetite de risco, ownership e o poder do “vai/não vai”
Segurança não existe no vácuo. Existe em relação ao apetite de risco do negócio, e alguém precisa ter o crachá para decidir. Discutimos como setores e produtos diferentes pedem pesos diferentes (latência, confidencialidade, integridade), e por que é tão crítico declarar quem aceita o risco e com base em quais evidências.
Criticidade contextual: risco alto em um domínio pode ser aceitável em outro. O mapa é do produto, não da ferramenta;
Ritos de decisão: go/no-go com critérios visíveis, papéis claros e retorno das lições aprendidas para o backlog;
Métricas que contam história: pare de colecionar número; escolha poucos indicadores que suportem suas escolhas (MTTR, taxa de falhas reabertas, incidentes por categoria, redução de ruído).
Kubernetes como meio, não como fim
Falamos também da ideia de que “o ano é da segurança” no universo cloud native, mas não por causa de uma tecnologia específica. Kubernetes amplia superfície e velocidade, então a disciplina precisa acompanhar: RBAC afinado, políticas declarativas, imagens saneadas, segredos bem tratados e supply chain observado. Sem isso, a orquestração só orquestra o caos.
Modelagem de ameaças e o básico bem feito
Antes de plataformas de sonho, modelagem de ameaças dá a bússola. No episódio, reforçamos um caminho enxuto:
Levante ativos e fronteiras do seu produto (dados, integrações, atores, ambientes);
Liste ameaças prováveis e controles existentes (não só os desejados);
Monte um mapa de calor por impacto e probabilidade;
Transforme cada risco em histórias de usuário claras (com critérios de aceite de segurança);
Trate o básico como higiene contínua: acesso mínimo, hardening, atualização, revisão de dependências e backups testados.
“Zero Trust não é uma ferramenta que você instala; é uma filosofia que impõe verificação contínua.”
Dados no centro, sem fetiche por números
Falamos de dados como insumo para priorizar. Mas nada de fetiche: número sem contexto engana. O ponto é contar uma história verificável que explique por que escolhemos corrigir X antes de Y, e depois medir se a escolha gerou o efeito esperado.
Como começar na segunda-feira
Para tirar a conversa do episódio e levar para o seu time, este é o roteiro que concordamos em público:
Declare o objetivo da visibilidade: que decisões vamos tomar com esses dados?;
Escolha 3 métricas operacionais e pare por aí por um trimestre;
Faça uma modelagem de ameaças leve do produto atual, nada de documento para gaveta;
Defina o apetite de risco com a pessoa que assina (sponsor). Sem essa âncora, backlog vira opinião;
Monte um Security Work Intake: como uma vulnerabilidade vira item priorizado e como ela compete com features;
Rode rituais curtos: triagem semanal de riscos, post-incident reviews com ações rastreáveis e datas, e uma revisão de ruído a cada mês.
Recursos citados no episódio
Slides e materiais que a Caroline comentou que publicaria no LinkedIn;
Referência do filme citado no final (IMDB);
Materiais de comunidades e meetups mencionados no papo.
Assim que os links oficiais forem confirmados, atualizaremos este post com as URLs correspondentes.
Para ouvir e compartilhar
Curtiu o tema? Ouça o Kubicast #180 completo e compartilhe com quem está tentando equilibrar velocidade com segurança em times de produto. Se fizer sentido, traga o episódio para o brown bag da sua equipe, vale como pauta de retro.
🎧 Ouça também o Kubicast no Spotify, e compartilhe com toda a turma de DevSecOps que está esperando o GPT resumir mais um relatório de PCI.